O novo centro pretende desenvolver soluções e estratégias inovadoras em agricultura tropical sustentável, baseada em carbono, para mitigar as mudanças climáticas e melhorar os padrões e condições de vida, como está descrito no documento de criação do Ccarbon, que ficará sediado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP em Piracicaba. Segundo o professor Cerri, o carbono tem função primordial no meio ambiente.
“Nossas atividades na agricultura e na indústria, mas, principalmente, a queima de combustível fóssil, em todos os setores, emitem gases de efeito estufa para a atmosfera, causando o que chamamos de aquecimento global”, explica. “Como se sabe, 70% das emissões globais desses gases são do setor de queima de combustível, da gasolina, do diesel e do carvão mineral. Globalmente falando, ainda, 20% vêm da agricultura, da pecuária e dos desmatamentos”, enumera. Para o professor, é preciso diminuir essa produção de carbono para a atmosfera, onde ele está em excesso, com maior sequestro de carbono para o solo, onde ficará na forma de matéria orgânica, com benefícios para as plantas e o meio ambiente.
Ainda segundo o documento, o desafio para os próximos anos será fazer face ao aumento da frequência de eventos climáticos extremos, como secas, cheias e outras adversidades naturais face à baixa resiliência dos sistemas naturais e agrícolas, ao mesmo tempo que se promove a transição para novas tecnologias agrícolas e processos de produção. Como está descrito, esse novo sistema agrícola deve ser pautado na descarbonização, baseado na economia circular, e visar a reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e o descarte de resíduos; aumentar o sequestro de carbono (C); desenvolver novas culturas com maior biomassa e rendimento e mais resilientes às adversidades naturais; e melhorar as condições de vida do ser humano em termos de comunidades social e culturalmente diversas.
Como vai funcionar o Ccarbon da USP
“Esse centro vai promover novas técnicas para ajudar na sustentabilidade, e essa é a palavra-chave”, afirma o professor, acrescentando que a sustentabilidade está focada em três pilares: social, econômico e ambiental. “Sustentabilidade econômica porque o produtor não depende de um único produto, o que impacta na vertente social, dando melhores condições de vida, e na vertente ambiental, com menor emissão de gases e maior sequestro de carbono”, reitera.
Para propor novas soluções, o Ccarbon vai contar, segundo Cerri, especialmente com pesquisadores brasileiros. “É um orgulho dizer que a grande parte dos pesquisadores é nacional porque já temos um nível avançado de tecnologia e conhecimento”, afirma, lembrando que sempre há espaço para avançar mais. Com um planejamento para os próximos cinco anos, o centro foi criado pensando a longo prazo. “Já temos um plano e atividades organizadas, mas à medida que os desafios e as tecnologias mudam, vamos reorganizando o nosso planejamento.”
Para descarbonizar a agricultura
Já existem tecnologias que são utilizadas na agricultura, na pecuária e na silvicultura para que se continue produzindo esses bens, porém com menor emissão de gases, garante o professor. Ele cita práticas de manejo, como o plantio direto, informando que o Brasil é líder dessa tecnologia. Como ele diz, o plantio direto é uma técnica em que não se perturba o solo, ou seja, não se usa implementos ou se revolve o solo intensamente. O professor exemplifica: “Quando se usa o arado revolvendo o solo, acabamos transformando aquele carbono que estava trazendo benefícios para o solo, e levando ele de volta à atmosfera, onde piora o problema do efeito estufa”.
O professor dá outro exemplo: os sistemas integrados de produção, como lavoura-pecuária-floresta, onde essas três formas de produção são concomitantes. “Numa mesma área, se tem uma floresta plantada, diferente de uma floresta de conservação, em que se pode usar, por exemplo, o eucalipto para a indústria, o pasto para o gado, que vai se beneficiar da sombra da floresta, e uma plantação de milho, por exemplo, que além de servir para colheita, pode ter suas espigas como alimento para o gado.” Com isso, garante, se resolve um outro problema: o produtor terá uma diversidade maior de produtos, não dependendo do valor das commodities de uma única produção.
Como destaca o coordenador, é preciso conciliar a crescente demanda por alimentos, fibra e energia com sustentabilidade, ambiental, econômica e social. Segundo ele, a disseminação do conhecimento vai para além da publicação de artigos científicos, buscando a interlocução com tomadores de decisão, seja na escala municipal, estadual ou federal, para a criação de políticas públicas que vão garantir a adoção de medidas necessárias para que “possamos emitir menos gases para a atmosfera e sequestrar mais carbono”, melhorando assim a vida da população brasileira. Fonte: Canal Rural