Estimativa inédita pode servir de referência para o mercado voluntário de carbono e para o pagamento por serviços ambientais, além de outras iniciativas. A precificação indica quanto se deve pagar pelos gases de efeito estufa que deixam de ser emitidos pela atividade, a fim de cobrir os custos econômicos, sociais e ambientais envolvidos. Valor ajuda também a referenciar programas governamentais de redução de emissões. Estudo considerou 297 municípios do cinturão citrícola brasileiro, na Região Sudeste. Cada hectare de pomar de citros estoca cerca de duas toneladas de carbono por ano. O preço do carbono na citricultura brasileira foi estimado em U$ 7,72 por tonelada de gás carbônico equivalente (tCO2e). É a primeira vez que se chega a um valor do indicador para a produção de laranjas. Ele pode servir de referência para o mercado voluntário de carbono, além de outras iniciativas voltadas à sustentabilidade, como o pagamento por serviços ambientais. A estimativa é da equipe da Embrapa Territorial (SP), em trabalho apresentado no 62º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (Sober). A analista da Embrapa Daniela Tatiane de Souza diz que há poucos estudos científicos no Brasil para precificar o carbono na agricultura e ainda não havia nenhum voltado para o setor citrícola, um dos de maior destaque entre as cadeias exportadoras do agronegócio nacional. Também não há um mercado de carbono regulado em operação na agricultura, que permita mensurar valores efetivamente praticados. “O que estamos fazendo é um trabalho pró-ativo para traçar perspectivas e estabelecer referências com base em metodologias adotadas internacionalmente”, explica. Gás carbônico é a unidade da “régua” Por ser o gás de efeito estufa (GEE) mais emitido na atmosfera desde o início da industrialização, o gás carbônico tornou-se indicador ambiental. Para efeitos comparativos e uniformização no mercado, a geração de outros GEE e agentes causadores de impacto ambiental são convertidos em toneladas de CO2 equivalente para mensuração e valoração. Ao se estimar o preço do carbono de uma atividade econômica, cria-se um incentivo financeiro para se investir em tecnologias e práticas mais sustentáveis. Por exemplo, a melhoria nas práticas de adubação para diminuir o uso de nitrogênio e a emissão de óxido nitroso – outro importante GEE – para a atmosfera. “Como a redução das emissões de GEE e a remoção de CO2 da atmosfera têm um custo (social, econômico e ambiental), a precificação é necessária para saber quanto se deve pagar por uma tonelada de CO2 equivalente que deixou de ser emitida ou que foi removida da atmosfera por uma atividade ou projeto. A precificação de carbono serve de referência para quem vai receber e para quem vai pagar por isso. É claro que ela é só uma referência, pois quando já se tem o certificado de emissão reduzida (CER), pode-se negociar valores maiores do que quem ainda vai iniciar um projeto”, detalha o pesquisador da Embrapa Lauro Rodrigues Nogueira Júnior. “Esse valor serve também para programas governamentais de redução de emissões que precisam de referências, assim como para os programas de pagamento por serviços ambientais que vêm sendo implementados no Brasil”, complementa. O valor estimado está próximo do que se observa para o setor agrícola, no mercado voluntário de carbono internacional. Nos últimos três anos, o valor médio do preço do carbono no mercado voluntário na agricultura mundial, levantado pelo Eurosystem Marketplace, variou de U$ 6,61 a U$ 11,02 por tCO2e. Como não há estimativas no Brasil, para efeito comparativo, a equipe da Embrapa valeu-se de um estudo prévio que forneceu um valor médio para o preço do carbono da agricultura e da pecuária nacionais. Considerando uma atualização monetária, ele seria de U$ 7 por tCO2 e – muito próximo, portanto, aos U$ 7,72 por tCO2e estimados para o setor citrícola. Fotos: Carlos Ronquim Como foi feito o cálculo Os cálculos para a citricultura foram feitos a partir de dados socioeconômicos e ambientais, combinando dois conjuntos de determinantes: o do “custo social do carbono” e do “custo marginal de abatimento”. O primeiro atribui valor monetário para as consequências ambientais e sociais das emissões de gases de efeito estufa e das mudanças climáticas. O segundo inclui o custo tecnológico da redução dessas emissões. “Nós fizemos uma modelagem, uma simulação de quanto poderia ser o preço do carbono na citricultura brasileira em função de um conjunto de determinantes que impactam o preço do carbono na agricultura”, detalha Souza. Para a estimativa, foram considerados 297 municípios do cinturão citrícola, que compreende o estado de São Paulo e o sudoeste/Triângulo Mineiro. A equipe utilizou, para os cálculos, dados como o Produto Interno Bruto (PIB) municipal e a participação da agricultura nesse indicador, as emissões per capita de CO2, a área dos municípios e a parcela destinada à preservação da vegetação nativa. Quanto maior o PIB de uma localidade, maior o valor do carbono, uma vez que um maior dinamismo da economia tende a gerar maiores emissões de GEE. Carbono e fauna na citricultura O trabalho faz parte de um projeto de pesquisa da Embrapa e do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), que avalia a dinâmica dos estoques de carbono e da biodiversidade da fauna em áreas citrícolas de São Paulo e Minas Gerais. O projeto foi selecionado pelo Fundo de Inovação para Agricultores da empresa innocent drinks, do Reino Unido, que investiu recursos no estudo. Esse fundo oferece financiamento para fornecedores em iniciativas voltadas à transição para agricultura de baixo carbono, incremento da biodiversidade e práticas agrícolas justas. A pesquisa estimou os estoques de carbono no cinturão citrícola em 36 milhões de toneladas, nos pomares, no solo e nas áreas com vegetação nativa dentro das fazendas produtoras. “Hoje sabemos que um hectare de citros estoca aproximadamente duas toneladas de carbono por ano, o que equivale a 7,32 tCO2”, diz Nogueira Jr. Foi um trabalho inédito, que colheu dados para estimar o volume de carbono estocado nas laranjeiras brasileiras e chegou a uma média de 50 quilos do elemento por árvore. O mesmo projeto identificou 314 espécies de animais silvestres no cinturão citrícola brasileiro. Foram flagrados ou encontrados vestígios de 268 aves, 28 mamíferos e 18 anfíbios e répteis. A onça-parda, a jaguatirica e o lobo-guará foram alguns dos animais de grande porte flagrados à noite pelas câmeras com sensor. Outros foram avistados e fotografados ou identificados pelas pegadas, fezes, ninhos e outros vestígios. Foto: Embrapa/Fundecitrus Maior produtor mundial de suco de laranja O Brasil é responsável por 35% da produção mundial de laranja e por 75% do comércio internacional do suco da fruta. Na última safra, a produção ficou em 307,22 milhões de caixas e a exportação do suco ultrapassou 2,8 milhões de toneladas. São 463 mil hectares de pomares só no cinturão citrícola, a principal região produtora, onde se concentram também as indústrias processadoras de suco e subprodutos. O setor movimenta cerca de U$ 14 bilhões por ano.
Foto: Carlos Ronquim
O valor do indicador para a produção de laranjas estimado pode servir de referência para o mercado voluntário de carbono
O preço do carbono na citricultura brasileira foi estimado em U$ 7,72 por tonelada de gás carbônico equivalente (tCO2e). É a primeira vez que se chega a um valor do indicador para a produção de laranjas. Ele pode servir de referência para o mercado voluntário de carbono, além de outras iniciativas voltadas à sustentabilidade, como o pagamento por serviços ambientais. A estimativa é da equipe da Embrapa Territorial (SP), em trabalho apresentado no 62º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (Sober).
A analista da Embrapa Daniela Tatiane de Souza diz que há poucos estudos científicos no Brasil para precificar o carbono na agricultura e ainda não havia nenhum voltado para o setor citrícola, um dos de maior destaque entre as cadeias exportadoras do agronegócio nacional. Também não há um mercado de carbono regulado em operação na agricultura, que permita mensurar valores efetivamente praticados. “O que estamos fazendo é um trabalho pró-ativo para traçar perspectivas e estabelecer referências com base em metodologias adotadas internacionalmente”, explica.
Gás carbônico é a unidade da “régua”
Por ser o gás de efeito estufa (GEE) mais emitido na atmosfera desde o início da industrialização, o gás carbônico tornou-se indicador ambiental. Para efeitos comparativos e uniformização no mercado, a geração de outros GEE e agentes causadores de impacto ambiental são convertidos em toneladas de CO2 equivalente para mensuração e valoração. Ao se estimar o preço do carbono de uma atividade econômica, cria-se um incentivo financeiro para se investir em tecnologias e práticas mais sustentáveis. Por exemplo, a melhoria nas práticas de adubação para diminuir o uso de nitrogênio e a emissão de óxido nitroso – outro importante GEE – para a atmosfera.
“Como a redução das emissões de GEE e a remoção de CO2 da atmosfera têm um custo (social, econômico e ambiental), a precificação é necessária para saber quanto se deve pagar por uma tonelada de CO2 equivalente que deixou de ser emitida ou que foi removida da atmosfera por uma atividade ou projeto. A precificação de carbono serve de referência para quem vai receber e para quem vai pagar por isso. É claro que ela é só uma referência, pois quando já se tem o certificado de emissão reduzida (CER), pode-se negociar valores maiores do que quem ainda vai iniciar um projeto”, detalha o pesquisador da Embrapa Lauro Rodrigues Nogueira Júnior. “Esse valor serve também para programas governamentais de redução de emissões que precisam de referências, assim como para os programas de pagamento por serviços ambientais que vêm sendo implementados no Brasil”, complementa.
O valor estimado está próximo do que se observa para o setor agrícola, no mercado voluntário de carbono internacional. Nos últimos três anos, o valor médio do preço do carbono no mercado voluntário na agricultura mundial, levantado pelo Eurosystem Marketplace, variou de U$ 6,61 a U$ 11,02 por tCO2e. Como não há estimativas no Brasil, para efeito comparativo, a equipe da Embrapa valeu-se de um estudo prévio que forneceu um valor médio para o preço do carbono da agricultura e da pecuária nacionais. Considerando uma atualização monetária, ele seria de U$ 7 por tCO2 e – muito próximo, portanto, aos U$ 7,72 por tCO2e estimados para o setor citrícola.
Fotos: Carlos Ronquim
Como foi feito o cálculo
Os cálculos para a citricultura foram feitos a partir de dados socioeconômicos e ambientais, combinando dois conjuntos de determinantes: o do “custo social do carbono” e do “custo marginal de abatimento”. O primeiro atribui valor monetário para as consequências ambientais e sociais das emissões de gases de efeito estufa e das mudanças climáticas. O segundo inclui o custo tecnológico da redução dessas emissões. “Nós fizemos uma modelagem, uma simulação de quanto poderia ser o preço do carbono na citricultura brasileira em função de um conjunto de determinantes que impactam o preço do carbono na agricultura”, detalha Souza.
Para a estimativa, foram considerados 297 municípios do cinturão citrícola, que compreende o estado de São Paulo e o sudoeste/Triângulo Mineiro. A equipe utilizou, para os cálculos, dados como o Produto Interno Bruto (PIB) municipal e a participação da agricultura nesse indicador, as emissões per capita de CO2, a área dos municípios e a parcela destinada à preservação da vegetação nativa. Quanto maior o PIB de uma localidade, maior o valor do carbono, uma vez que um maior dinamismo da economia tende a gerar maiores emissões de GEE.
Carbono e fauna na citriculturaO trabalho faz parte de um projeto de pesquisa da Embrapa e do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), que avalia a dinâmica dos estoques de carbono e da biodiversidade da fauna em áreas citrícolas de São Paulo e Minas Gerais. O projeto foi selecionado pelo Fundo de Inovação para Agricultores da empresa innocent drinks, do Reino Unido, que investiu recursos no estudo. Esse fundo oferece financiamento para fornecedores em iniciativas voltadas à transição para agricultura de baixo carbono, incremento da biodiversidade e práticas agrícolas justas. A pesquisa estimou os estoques de carbono no cinturão citrícola em 36 milhões de toneladas, nos pomares, no solo e nas áreas com vegetação nativa dentro das fazendas produtoras. “Hoje sabemos que um hectare de citros estoca aproximadamente duas toneladas de carbono por ano, o que equivale a 7,32 tCO2”, diz Nogueira Jr. Foi um trabalho inédito, que colheu dados para estimar o volume de carbono estocado nas laranjeiras brasileiras e chegou a uma média de 50 quilos do elemento por árvore.
O mesmo projeto identificou 314 espécies de animais silvestres no cinturão citrícola brasileiro. Foram flagrados ou encontrados vestígios de 268 aves, 28 mamíferos e 18 anfíbios e répteis. A onça-parda, a jaguatirica e o lobo-guará foram alguns dos animais de grande porte flagrados à noite pelas câmeras com sensor. Outros foram avistados e fotografados ou identificados pelas pegadas, fezes, ninhos e outros vestígios.
Foto: Embrapa/Fundecitrus |
Maior produtor mundial de suco de laranjaO Brasil é responsável por 35% da produção mundial de laranja e por 75% do comércio internacional do suco da fruta. Na última safra, a produção ficou em 307,22 milhões de caixas e a exportação do suco ultrapassou 2,8 milhões de toneladas. São 463 mil hectares de pomares só no cinturão citrícola, a principal região produtora, onde se concentram também as indústrias processadoras de suco e subprodutos. O setor movimenta cerca de U$ 14 bilhões por ano. |
Vivian Chies (MTb 42.643/SP)
Embrapa Territorial
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Tradução em inglês: Bibiana Almeida
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