A indústria da reciclagem animal assume um papel estratégico dentro do setor de carnes. A ideia é muito simples: durante o processo de abate não há desperdício; o despojo (subprodutos não comestíveis derivados do abate) se torna outros produtos que terão papel determinante em diversos segmentos industriais.
As aplicações são variadas, passando por indústrias como automobilística, de higiene e limpeza, de biocombustíveis, de nutrição animal, entre tantas outras…
As farinhas de origem animal têm aplicação variada na indústria, que produz rações para animais, incluindo pet food. As gorduras se tornam biodiesel, e são utilizadas na produção de saponáceos, em especial o sebo bovino. Nos últimos meses, o sebo bovino tem sido um dos insumos preferidos da indústria de biocombustíveis dos Estados Unidos, com exportações de sebo bovino crescendo em ritmo alucinante ano após ano (veja tabela abaixo).

O fato é que não há sobras após o abate. A prática reduz o desperdício, minimiza eventuais impactos ambientais, além de estar alinhado ao conceito de sustentabilidade. A indústria frigorífica brasileira enxergou no setor um imenso potencial e realmente não há equívocos na estratégia. As graxarias independentes também ocupam um papel importante na produção desses derivados do abate.
O Brasil é um dos grandes produtores de carne do mundo, os demais produtos que derivam do abate tendem a ganhar cada vez mais espaço no mercado local e internacional. A expectativa é que o trabalho capitaneado pela Associação Brasileira de Reciclagem Animal (Abra) resulte na abertura de novos mercados, oferecendo a tendência de exportações cada vez mais representativas.
O setor tem avançado rapidamente nas questões organizacionais, entendendo que uma gestão profissional é imprescindível para se ter longevidade dentro da atividade. As conquistas são múltiplas, em um setor que promove os conceitos mais modernos de ESG.
Não há dúvidas em relação ao potencial da indústria de reciclagem animal em termos de geração de riqueza, ajudando na criação de novos postos de trabalho e na ampliação da renda.
O futuro do setor de reciclagem animal no Brasil será brilhante. A expectativa é de crescimento da produtividade média na pecuária brasileira, com expectativa de avanço dos abates de aves e suínos. O abate de bovinos ainda respeita as flutuações do ciclo pecuário. Mesmo assim, o aumento da produtividade média é gritante. Com uma maior produtividade há um natural aumento da produção de derivados do abate.
A demanda também é expansiva, observando justamente a ampliação da produção de biocombustíveis e da ampliação da produção de rações, tanto para animais comerciais, quanto para pet food.
Dessa forma, o país vai ser um dos atores principais em um segmento que representa tudo que é mais moderno em termos de economia circular.


*Fernando Henrique Iglesias é coordenador do departamento de Análise de Safras & Mercado, com especialidade no setor de carnes (boi, frango e suíno)
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