Novos óleos essenciais são avaliados como anestésicos no transporte de tambaquis

Óleos essenciais das plantas alecrim-pimenta ou alecrim grande (Lippia sidoides), hortelã-pimenta (Mentha piperita) e erva-cidreira (Aloysia triphylla) foram avaliados como anestésicos e redutores de estresse, pela primeira vez, no transporte do peixe tambaqui. O emprego de anestésicos em operações rotineiras na piscicultura facilita o manejo, contribui para o bem-estar dos animais e minimiza perdas na produção. Na pesquisa, foram definidas as concentrações desses óleos, visando às melhores condições de biossegurança no manejo de tambaquis (Colossoma macropomum). E foram avaliadas, de forma detalhada, as respostas fisiologicas dos peixes. Os resultados comprovaram a eficiência dos óleos como sedativos e anestésicos nesses peixes, com ausência de efeitos neurotóxicos nos animais. Mostraram, ainda, impactos positivos na qualidade da água do transporte. O estudo traz avanços na prospecção de produtos naturais para uso na piscicultura, com baixos níveis de resíduos da atividade e menores custos. Pesquisa conduzida na Embrapa Amazônia Ocidental (AM) avaliou o uso de óleos essenciais como anestésicos e redutores de estresse no transporte de peixe. Definiu, ainda, as melhores concentrações dos óleos de três fontes vegetais que apresentaram maior biossegurança, de modo a garantir êxito no manejo do tambaqui (Colossoma macropomum), espécie nativa mais criada no Brasil. Os resultados representam um avanço no conhecimento voltado à prospecção de produtos naturais para uso na piscicultura. A pesquisa foi desenvolvida pelo biólogo Franmir Rodrigues Brandão, como trabalho de doutorado, e avaliou os óleos essenciais das plantas alecrim-pimenta ou alecrim grande (Lippia sidoides), hortelã-pimenta (Mentha piperita) e erva-cidreira (Aloysia triphylla). Os objetivos foram determinar os tempos e as concentrações adequadas para indução e recuperação anestésica em tambaqui, e avaliar as respostas fisiológicas do estresse, em situação de transporte simulado em rodovia, sob a influência desses óleos essenciais. Analisaram-se também parâmetros de qualidade de água, hormonais, bioquímicos e enzimáticos. Como resultados do estudo, foram definidas as concentrações dos óleos essenciais que induzem a anestesia segura dos peixes, bem como aquelas sedativas que contribuem para minimizar os efeitos do estresse nos juvenis de tambaqui. Foto acima: Celio Chaves (erva-cidreira – Aloysia triphylla) Anestésicos em manejo de peixes Edsandra Chagas, pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental e orientadora da tese de Brandão, explica que o emprego de anestésicos em operações rotineiras na piscicultura, além de facilitar o manejo, contribui para garantir o bem-estar dos animais e minimizar as perdas na produção. Óleos essenciais de pelo menos 30 espécies de plantas têm sido estudados quanto à sua aplicação sedativa e anestésica em peixes nativos do Brasil, de acordo com a pesquisadora. Mas o trabalho de doutorado de Brandão traz a primeira avaliação para o uso dos óleos essenciais das três plantas no transporte de tambaqui com a descrição mais detalhada das respostas fisiológicas. Segundo Brandão, a escolha das três espécies de plantas avaliadas levou em consideração seus compostos majoritários anestésicos e informações da literatura científica sobre a atividade biológica em outros organismos. Resultados positivos Um dos resultados da tese de Brandão aponta que os óleos essenciais de alecrim-pimenta ou alecrim grande, de hortelã-pimenta e de erva-cidreira avaliados são eficientes como sedativos e anestésicos em tambaqui. Desses, o óleo essencial de alecrim-pimenta na concentração de 30 miligramas por litro (mg/L) foi o que apresentou maior eficiência, com menor tempo de indução e de recuperação anestésica (4,52 e 9,84 minutos, respectivamente). De acordo com o biólogo, no emprego das concentrações anestésicas dos óleos essenciais de erva-cidreira (150 mg/L), alecrim-pimenta (30 mg/L) e hortelã-pimenta (90 mg/L), não foram registrados danos morfológicos nas brânquias dos tambaquis, como fibrose e necrose, considerados irreversíveis. Na avaliação dos óleos essenciais como redutores de estresse no transporte de tambaqui, os resultados também foram benéficos. Os óleos essenciais de alecrim-pimenta e hortelã-pimenta influenciaram positivamente na qualidade da água do transporte, com redução dos níveis de amônia total e nitrito, promoveram a mitigação de respostas de estresse e não apresentaram efeitos neurotóxicos em tambaquis. De acordo com o estudo, a concentração de 20 mg/L do óleo essencial de alecrim-pimenta apresentou melhores resultados, e é a mais recomendada para o transporte do peixe. Brandão acrescenta que o estudo de anestésicos naturais se faz necessário para desenvolver produtos que apresentem eficácia em baixa concentração, com rápida recuperação dos peixes, redução das respostas de estresse nos animais, baixos níveis de resíduos e menores custos. “É importante que os novos anestésicos a serem utilizados na aquicultura tragam resultados satisfatórios para os produtores, com respeito às diretrizes ambientais, contribuindo para desenvolvimento do setor produtivo e para a maior biosseguridade e biossegurança no segmento.” Foto acima: Celio Chaves (alecrim grande – Lippia sidoides) Produto para o mercado De acordo com o biólogo, a aplicação dos resultados da pesquisa na preparação de um produto final que possa chegar ao mercado ainda depende de mais estudos. Ele sugere a avaliação de novas tecnologias com base na nanotecnologia, acrescentando que a equipe da pesquisadora Edsandra Chagas vem investindo nessa linha, nos trabalhos voltados a óleos essenciais. Chagas informa que as perspectivas do seu grupo de pesquisa se abrem para a avaliação de substâncias isoladas dos óleos essenciais ou de combinações destes óleos. Estão focadas também em nanoencapsulados contendo óleos essenciais, com o intuito de potencializar as suas atividades biológicas, a partir de uma liberação direcionada. A pesquisadora afirma que, na continuidade das ações de pesquisa, estão previstas a padronização e a disponibilização de protocolos para o manejo seguro dos peixes, assim como para o controle de doenças que acometem o tambaqui em cultivo. “São exemplos a acantocefalose e a piscinodiníase, causadas pelos parasitos acantocéfalo Neoechinorhynchus buttnerae e pelo dinoflagelado Piscinoodinium pillulare, respectivamente, e doenças bacterianas causadas por Aeromonas hydrophila e Aeromonas jandaei”, cita a pesquisadora. Para esses últimos patógenos, o protocolo de avaliação será o de terapia combinada com substâncias isoladas dos óleos essenciais e antimicrobianos comerciais. “A intenção é contribuir com práticas de manejo e tratamentos alternativos naturais para promoção da aquicultura sustentável”, acrescenta Chagas. Foto à esquerda: Fernando Goss (tambaqui) Equipe de pesquisa A pesquisa conduzida por Franmir Brandão teve a orientação da engenheira de pesca Edsandra Campos Chagas, e a coorientação da veterinária Fernanda Loureiro Almeida O` Sullivan, também pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental. Para a realização do estudo, foi feito o cultivo das plantas sob a coordenação do pesquisador agrônomo Francisco Célio Maia Chaves, e a destilação dos óleos essenciais pelo biólogo Marcelo Róseo de Oliveira, ambos do Laboratório de Plantas Medicinais e Fitoquímica, do mesmo centro de pesquisa. O estudo contou com a colaboração do pesquisador Humberto Ribeiro Bizzo, da Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ), que realizou a caracterização química dos óleos essenciais. O professor Wallice Paxiúba Duncan, também colaborador, conduziu a determinação das análises bioquímicas e enzimáticas nos tecidos dos peixes no Laboratório de Morfologia Funcional da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Imagem: montagem por Siglia Souza Melhor tese O trabalho de doutorado recebeu, em 2021, o prêmio de melhor tese do ano de 2020 produzida no Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal e Recursos Pesqueiros, da Ufam. Resultou em três artigos em revistas científicas internacionais. O mais recente, de 2022, foi “Essential oils of Lippia sidoides and Mentha piperita as reducers of stress during the transport of Colossoma macropomum”, na Aquaculture. Além do reconhecimento acadêmico, a pesquisa é uma importante contribuição para a piscicultura regional e nacional, conforme destaca Brandão, por trazer resultados de um produto natural com atividade anestésica comprovada, oferecendo uma alternativa para uso no manuseio e transporte dos peixes. “Alguns dos anestésicos comerciais disponíveis promovem alterações em parâmetros fisiológicos dos peixes, com eventuais registros de resíduos nos tecidos dos animais e também um alto custo de aquisição”, aponta. Foto acima: Celio Chaves (hortelã-pimenta – Mentha piperita)

Foto: Siglia Souza

Pesquisa mostra que os óleos essenciais de alecrim-pimenta, hortelã-pimenta e erva-cidreira avaliados são eficientes como sedativos e anestésicos em tambaqui

 

Pesquisa conduzida na Embrapa Amazônia Ocidental (AM) avaliou o uso de óleos essenciais como anestésicos e redutores de estresse no transporte de peixe. Definiu, ainda, as melhores concentrações dos óleos de três fontes vegetais que apresentaram maior biossegurança, de modo a garantir êxito no manejo do tambaqui (Colossoma macropomum), espécie nativa mais criada no Brasil. Os resultados representam um avanço no conhecimento voltado à prospecção de produtos naturais para uso na piscicultura.

A pesquisa foi desenvolvida pelo biólogo Franmir Rodrigues Brandão, como trabalho de doutorado, e avaliou os óleos essenciais das plantas alecrim-pimenta ou alecrim grande (Lippia sidoides), hortelã-pimenta (Mentha piperita) e erva-cidreira (Aloysia triphylla).  Os objetivos foram determinar os tempos e as concentrações adequadas para indução e recuperação anestésica em tambaqui, e avaliar as respostas fisiológicas do estresse, em situação de transporte simulado em rodovia, sob a influência desses óleos essenciais.

Analisaram-se também parâmetros de qualidade de água, hormonais, bioquímicos e enzimáticos. Como resultados do estudo, foram definidas as concentrações dos óleos essenciais que induzem a anestesia segura dos peixes, bem como aquelas sedativas que contribuem para minimizar os efeitos do estresse nos juvenis de tambaqui.

Foto acima: Celio Chaves (erva-cidreira – Aloysia triphylla)

Anestésicos em manejo de peixes

Edsandra Chagas, pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental e orientadora da tese de Brandão, explica que o emprego de anestésicos em operações rotineiras na piscicultura, além de facilitar o manejo, contribui para garantir o bem-estar dos animais e minimizar as perdas na produção.

Óleos essenciais de pelo menos 30 espécies de plantas têm sido estudados quanto à sua aplicação sedativa e anestésica em peixes nativos do Brasil, de acordo com a pesquisadora. Mas o trabalho de doutorado de Brandão traz a primeira avaliação para o uso dos óleos essenciais das três plantas no transporte de tambaqui com a descrição mais detalhada das respostas fisiológicas.

Segundo Brandão, a escolha das três espécies de plantas avaliadas levou em consideração seus compostos majoritários anestésicos e informações da literatura científica sobre a atividade biológica em outros organismos.

Resultados positivos

Um dos resultados da tese de Brandão aponta que os óleos essenciais de alecrim-pimenta ou alecrim grande, de hortelã-pimenta e de erva-cidreira avaliados são eficientes como sedativos e anestésicos em tambaqui. Desses, o óleo essencial de alecrim-pimenta na concentração de 30 miligramas por litro (mg/L) foi o que apresentou maior eficiência, com menor tempo de indução e de recuperação anestésica (4,52 e 9,84 minutos, respectivamente). De acordo com o biólogo, no emprego das concentrações anestésicas dos óleos essenciais de erva-cidreira (150 mg/L), alecrim-pimenta (30 mg/L) e hortelã-pimenta (90 mg/L), não foram registrados danos morfológicos nas brânquias dos tambaquis, como fibrose e necrose, considerados irreversíveis.

Na avaliação dos óleos essenciais como redutores de estresse no transporte de tambaqui, os resultados também foram benéficos. Os óleos essenciais de alecrim-pimenta e hortelã-pimenta influenciaram positivamente na qualidade da água do transporte, com redução dos níveis de amônia total e nitrito, promoveram a mitigação de respostas de estresse e não apresentaram efeitos neurotóxicos em tambaquis. De acordo com o estudo, a concentração de 20 mg/L do óleo essencial de alecrim-pimenta apresentou melhores resultados, e é a mais recomendada para o transporte do peixe.

Brandão acrescenta que o estudo de anestésicos naturais se faz necessário para desenvolver produtos que apresentem eficácia em baixa concentração, com rápida recuperação dos peixes, redução das respostas de estresse nos animais, baixos níveis de resíduos e menores custos. “É importante que os novos anestésicos a serem utilizados na aquicultura tragam resultados satisfatórios para os produtores, com respeito às diretrizes ambientais, contribuindo para desenvolvimento do setor produtivo e para a maior biosseguridade e biossegurança no segmento.” 

Foto acima: Celio Chaves (alecrim grande – Lippia sidoides)

Produto para o mercado

De acordo com o biólogo, a aplicação dos resultados da pesquisa na preparação de um produto final que possa chegar ao mercado ainda depende de mais estudos. Ele sugere a avaliação de novas tecnologias com base na nanotecnologia, acrescentando que a equipe da pesquisadora Edsandra Chagas vem investindo nessa linha, nos trabalhos voltados a óleos essenciais.

Chagas informa que as perspectivas do seu grupo de pesquisa se abrem para a avaliação de substâncias isoladas dos óleos essenciais ou de combinações destes óleos. Estão focadas também em nanoencapsulados contendo óleos essenciais, com o intuito de potencializar as suas atividades biológicas, a partir de uma liberação direcionada.

A pesquisadora afirma que, na continuidade das ações de pesquisa, estão previstas a padronização e a disponibilização de protocolos para o manejo seguro dos peixes, assim como para o controle de doenças que acometem o tambaqui em cultivo. “São exemplos a acantocefalose e a piscinodiníase, causadas pelos parasitos acantocéfalo Neoechinorhynchus buttnerae e pelo dinoflagelado Piscinoodinium pillulare, respectivamente, e doenças bacterianas causadas por Aeromonas hydrophila e Aeromonas jandaei”, cita a pesquisadora. Para esses últimos patógenos, o protocolo de avaliação será o de terapia combinada com substâncias isoladas dos óleos essenciais e antimicrobianos comerciais. “A intenção é contribuir com práticas de manejo e tratamentos alternativos naturais para promoção da aquicultura sustentável”, acrescenta Chagas.

Foto à esquerda: Fernando Goss (tambaqui)

 

Equipe de pesquisa

A pesquisa conduzida por Franmir Brandão teve a orientação da engenheira de pesca Edsandra Campos Chagas, e a coorientação da veterinária Fernanda Loureiro Almeida O` Sullivan, também pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental. Para a realização do estudo, foi feito o cultivo das plantas sob a coordenação do pesquisador agrônomo Francisco Célio Maia Chaves, e a destilação dos óleos essenciais pelo biólogo Marcelo Róseo de Oliveira, ambos do Laboratório de Plantas Medicinais e Fitoquímica, do mesmo centro de pesquisa.

O estudo contou com a colaboração do pesquisador Humberto Ribeiro Bizzo, da Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ), que realizou a caracterização química dos óleos essenciais. O professor Wallice Paxiúba Duncan, também colaborador,  conduziu a determinação das análises bioquímicas e enzimáticas nos tecidos dos peixes no Laboratório de Morfologia Funcional da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Imagem: montagem por Siglia Souza

 

Melhor tese

O trabalho de doutorado recebeu, em 2021, o prêmio de melhor tese do ano de 2020 produzida no Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal e Recursos Pesqueiros, da Ufam. Resultou em três artigos em revistas científicas internacionais. O mais recente, de 2022, foi  “Essential oils of Lippia sidoides and Mentha piperita as reducers of stress during the transport of Colossoma macropomum”, na Aquaculture.

Além do reconhecimento acadêmico, a pesquisa é uma importante contribuição para a piscicultura regional e nacional, conforme destaca Brandão, por trazer resultados de um produto natural com atividade anestésica comprovada, oferecendo uma alternativa para uso no manuseio e transporte dos peixes. “Alguns dos anestésicos comerciais disponíveis promovem alterações em parâmetros fisiológicos dos peixes, com eventuais registros de resíduos nos tecidos dos animais e também um alto custo de aquisição”, aponta.

Foto acima: Celio Chaves (hortelã-pimenta – Mentha piperita)

 

Síglia Souza (MTb 66/AM)
Embrapa Amazônia Ocidental

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Fonte: Norte Agropecuário