Vacina para humanos pode ser a chave para controlar tuberculose bovina, diz estudo

Um estudo publicado na revista Science revela que a vacina Bacillus Calmette-Guérin (BCG), utilizada em humanos há mais de 100 anos, reduziu a transmissão da tuberculose bovina (bTB) em 90%.

Cientistas da Penn State, nos Estados Unidos; da Universidade de Adis Abeba, Etiópia; e da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, conduziram a pesquisa na Etiópia.

Além de reduzir a transmissão, o estudo também mostrou que animais vacinados apresentaram menos sinais da doença e menor carga bacteriana.

Tuberculose bovina

A tuberculose bovina é uma doença zoonótica, causada pela bactéria Mycobacterium bovis, que provoca perdas econômicas significativas na pecuária e representa um risco para a saúde pública.

Ela se torna crônica nos animais e é transmissível para o homem. Nos bovinos, a doença causa lesões em diversos órgãos e tecidos, como pulmões, fígado, baço e até nas carcaças.

No homem, a maioria dos casos ocorre em jovens e resulta da ingestão ou manipulação de leite contaminado.

Os trabalhadores rurais podem se infectar inalando perdigotos (aerossóis) de bovinos infectados, desenvolvendo a tuberculose pulmonar.

A doença causa diversos prejuízos ao pecuarista, dentre eles a queda na produção de leite. Em casos avançados de tuberculose, há perdas também na produção de carne.

Atualmente não existe vacina nem tratamento para a tuberculose bovina, portanto a prevenção da entrada da doença é a chave do controle.

Pesquisa

Os pesquisadores dividiram os animais em grupos: alguns receberam a vacina BCG e outros não.

Em seguida, colocaram esses grupos em espaços onde havia animais naturalmente infectados.

Durante dois anos, os pesquisadores observaram se os animais vacinados apresentavam menor incidência da doença em comparação com os não vacinados. Eles também viram se houve redução na transmissão da doença entre os grupos.

Um modelo de transmissão desenvolvido pela equipe sugere que a vacinação de rotina de bezerros poderia controlar a disseminação da doença e levar os rebanhos à eliminação da tuberculose.

“Por mais de cem anos, os programas de erradicação da tuberculose bovina têm confiado em testes intensivos e no abate de animais infectados”, afirmou Vivek Kapur, professor de microbiologia e doenças infecciosas e ocupante da Cátedra Huck em Saúde Global na Universidade Penn State, e autor correspondente do estudo.

“Essa abordagem não é viável em muitas partes do mundo por questões econômicas e sociais, resultando em sofrimento significativo para os animais e perdas econômicas devido à redução da produtividade, além de aumentar o risco de propagação da infecção para os seres humanos. Ao vacinar o gado, esperamos poder proteger tanto os animais quanto os seres humanos das consequências devastadoras dessa doença”, disse.

A Etiópia possui o maior rebanho bovino da África e um setor leiteiro em crescimento. Essa característica motivou a escolha do país como representante de economias em transição que enfrentam desafios semelhantes no controle da tuberculose bovina.

Segundo os pesquisadores, a descoberta do potencial da vacina BCG em bovinos abre novas perspectivas para o controle da doença.

“Esses resultados fornecem um apoio importante para o benefício epidemiológico que a vacinação do gado poderia ter para reduzir as taxas de transmissão para e dentro dos rebanhos”, explicou James Wood, professor da Universidade de Cambridge.

A pesquisa foi financiada pela Fundação Bill & Melinda Gates e por conselhos de pesquisa do Reino Unido.

Fonte: Canal Rural