Probióticos usados em frangos ajudam a acelerar o crescimento de alface

Probióticos usados em frangos estimularam o crescimento de alfaces em estudo da Embrapa e parceiros Testes com produtos comerciais mostraram aumento na biomassa e no desenvolvimento das raízes. Microrganismos como Bacillus e Lactobacillus atuam no solo e ajudam no crescimento das plantas. Pesquisadores veem nos probióticos uma alternativa sustentável ao uso de fertilizantes químicos.. Estudo abre caminho para uso agrícola de produtos já disponíveis no mercado mundial.. Uma pesquisa da Embrapa Meio Ambiente (SP), em parceria com o Instituto Biológico de São Paulo e a Universidade Estadual Paulista (Unesp), revelou que probióticos amplamente utilizados na criação de frangos também podem ser eficazes na agricultura. Testes realizados com produtos comerciais disponíveis no mercado indicaram que esses microrganismos têm potencial para estimular o crescimento de alface, com efeitos visíveis tanto no desenvolvimento das raízes quanto na parte aérea das plantas. O estudo usou probióticos formulados com bactérias dos gêneros Bacillus e Lactobacillus, reconhecidas por promoverem o crescimento vegetal. Esses microrganismos já são bem conhecidos na avicultura, na qual ajudam a equilibrar a microbiota intestinal dos animais e a suprimir patógenos. Agora, os cientistas investigam seu papel no solo, buscando efeitos semelhantes no ambiente das plantas. INSERIR VÍDEO https://youtu.be/hCPNFUO1rUM?si=Ldm0x4oLB2G5T6lr Nos experimentos, duas formulações comerciais (Colostrum BIO 21 Pó e Colostrum BS Pó, produzidas pela empresa Biocamp) apresentaram resultados especialmente positivos. “Ambas promoveram um crescimento mais vigoroso da alface, com maior massa de folhas e raízes mais robustas”, conta a pesquisadora Rafaela Vargas, da Unesp, responsável pela condução do estudo em seu mestrado. Os testes foram realizados de duas formas distintas: com aplicação direta no substrato no momento da semeadura e com aplicação semanal via drench (imagem abaixo), técnica que consiste na irrigação localizada do solo com os probióticos, de forma a atingir diretamente as raízes. Ambas as formas de aplicação mostraram eficiência, segundo os pesquisadores. “É promissor ver que produtos já disponíveis no mercado, com uso consolidado na avicultura, podem ser adaptados para promover o crescimento vegetal. Isso pode acelerar sua adoção na agricultura”, avalia o pesquisador da Embrapa Wagner Bettiol, orientador da pesquisa. Imagem acima: aplicação via drench Solo saudável, planta forte Segundo Bettiol, o solo é um ambiente vivo, repleto de microrganismos que interagem entre si e com as plantas. “Essas interações microbianas são fundamentais para o desenvolvimento vegetal. Ao introduzirmos bactérias benéficas, como Bacillus e Lactobacillus, estimulamos processos naturais que favorecem o crescimento”, explica. As bactérias utilizadas são capazes de promover o crescimento das plantas por mecanismos como a produção de substâncias bioestimulantes, a competição com patógenos por espaço e nutrientes, e até a indução de resistência natural nas plantas. Essa atuação multifuncional torna os probióticos candidatos promissores para compor práticas de manejo mais sustentáveis. Rafaela Vargas conta que o interesse em estudar os probióticos surgiu a partir de sua aplicação consolidada na saúde animal. “Se funcionam tão bem no equilíbrio da microbiota intestinal dos frangos, por que não poderiam ajudar a equilibrar a microbiota do solo?”, questiona. Resultados em números e aplicações práticas Durante os testes, os pesquisadores avaliaram indicadores clássicos de desenvolvimento das plantas, como altura da parte aérea, peso da biomassa fresca e seca e o estado das raízes. Nos grupos que receberam os probióticos, esses parâmetros se mostraram consistentemente superiores. Segundo os cientistas, os microrganismos se mostraram ativos no solo, com efeitos visíveis no vigor das plantas. A aplicação via drench, por exemplo, favoreceu a absorção direta pelas raízes, o que pode ser vantajoso em cultivos comerciais. Flavia Patrício, pesquisadora do Instituto Biológico de São Paulo, alerta, no entanto, que ainda são necessários testes para confirmar o desempenho dos probióticos em outras culturas. Os pesquisadores também destacam que fatores como condições do solo, interação com outros microrganismos e momento da aplicação podem influenciar a eficácia dos probióticos. Ajustes nas formulações ou a combinação com outros microrganismos podem ser estratégias para melhorar seu desempenho. Esses aspectos estão sendo estudados pela empresa produtora dos probióticos em conjunto com uma empresa do ramo agrícola Imagem acima: aplicação via substrato Caminhos para uma agricultura mais sustentável O uso de probióticos se insere em um contexto mais amplo de transição para sistemas agrícolas menos dependentes de insumos químicos, como fertilizantes e defensivos sintéticos. “A ideia é integrar esses bioinsumos a um pacote tecnológico mais sustentável, que fortaleça o solo e torne a lavoura mais resiliente”, defende Bettiol. Pesquisadores já estudam ajustes nas formulações dos produtos ou combinações com outros microrganismos para ampliar a eficácia dos tratamentos. O objetivo é entender melhor as condições ideais de aplicação e como esses produtos interagem com os solos e plantas em diferentes regiões do País. Oportunidade para o Brasil O Brasil, por sua posição de destaque na produção de alimentos e pelas condições tropicais que favorecem o uso de microrganismos, tem grande potencial para liderar o desenvolvimento e aplicação de tecnologias baseadas em bioinsumos. A tendência é que o uso de probióticos e outros produtos biológicos cresça, impulsionado pela busca por soluções mais sustentáveis e pela crescente demanda dos consumidores por alimentos mais saudáveis e com menor impacto ambiental. “Temos a chance de aproveitar produtos que já existem, com segurança comprovada, e adaptá-los à nossa realidade agrícola. Isso pode reduzir o tempo e o custo de adoção dessas tecnologias”, conclui Bettiol. Um mercado em crescimento A demanda por bioinsumos no País vem aumentando nos últimos anos. A necessidade de alternativas ao uso intensivo de fertilizantes importados, somada à preocupação ambiental e à busca por sistemas produtivos mais equilibrados, tem impulsionado pesquisas e investimentos na área. O uso de microrganismos benéficos, como os testados no estudo, representa uma frente promissora dentro dessa tendência. Além de estimular o crescimento das plantas, eles podem contribuir para o controle biológico de pragas e doenças, melhorar a saúde do solo e até aumentar a eficiência do uso de nutrientes. A produção de alface no Brasil O Brasil é um dos maiores produtores de hortaliças da América Latina, e a alface está entre as mais cultivadas. A produção anual ultrapassa 1,5 milhão de toneladas, concentrada principalmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, que reúnem condições climáticas favoráveis, boa infraestrutura e estão próximos dos grandes centros consumidores. O brasileiro consome, em média, entre 5 e 7 quilos de alface por ano — um volume considerado baixo em relação a outros países. As principais variedades são a alface Crespa, a Lisa, a Americana e a Roxa, esta última ganhando espaço pelo apelo nutricional e estético. Fatores como clima, transporte e sazonalidade impactam o preço da hortaliça. Em épocas de chuva intensa, por exemplo, a oferta diminui e os preços podem dobrar. Apesar de ser voltada principalmente ao mercado interno, a produção de alface começa a experimentar crescimento na agricultura hidropônica e orgânica, puxada por consumidores que buscam alimentos mais saudáveis. O setor também é importante gerador de empregos, especialmente entre pequenos e médios produtores.

 

Uma pesquisa da Embrapa Meio Ambiente (SP), em parceria com o Instituto Biológico de São Paulo e a Universidade Estadual Paulista (Unesp), revelou que probióticos amplamente utilizados na criação de frangos também podem ser eficazes na agricultura. Testes realizados com produtos comerciais disponíveis no mercado indicaram que esses microrganismos têm potencial para estimular o crescimento de alface, com efeitos visíveis tanto no desenvolvimento das raízes quanto na parte aérea das plantas.

O estudo usou probióticos formulados com bactérias dos gêneros Bacillus e Lactobacillus, reconhecidas por promoverem o crescimento vegetal. Esses microrganismos já são bem conhecidos na avicultura, na qual ajudam a equilibrar a microbiota intestinal dos animais e a suprimir patógenos. Agora, os cientistas investigam seu papel no solo, buscando efeitos semelhantes no ambiente das plantas.

 

INSERIR VÍDEO

 

Nos experimentos, duas formulações comerciais (Colostrum BIO 21 Pó e Colostrum BS Pó, produzidas pela empresa Biocamp) apresentaram resultados especialmente positivos. “Ambas promoveram um crescimento mais vigoroso da alface, com maior massa de folhas e raízes mais robustas”, conta a pesquisadora Rafaela Vargas, da Unesp, responsável pela condução do estudo em seu mestrado.

Os testes foram realizados de duas formas distintas: com aplicação direta no substrato no momento da semeadura e com aplicação semanal via drench (imagem abaixo), técnica que consiste na irrigação localizada do solo com os probióticos, de forma a atingir diretamente as raízes. Ambas as formas de aplicação mostraram eficiência, segundo os pesquisadores.

 “É promissor ver que produtos já disponíveis no mercado, com uso consolidado na avicultura, podem ser adaptados para promover o crescimento vegetal. Isso pode acelerar sua adoção na agricultura”, avalia o pesquisador da Embrapa Wagner Bettiol, orientador da pesquisa.

Imagem acima: aplicação via drench

 

Solo saudável, planta forte

Segundo Bettiol, o solo é um ambiente vivo, repleto de microrganismos que interagem entre si e com as plantas. “Essas interações microbianas são fundamentais para o desenvolvimento vegetal. Ao introduzirmos bactérias benéficas, como Bacillus e Lactobacillus, estimulamos processos naturais que favorecem o crescimento”, explica.

As bactérias utilizadas são capazes de promover o crescimento das plantas por mecanismos como a produção de substâncias bioestimulantes, a competição com patógenos por espaço e nutrientes, e até a indução de resistência natural nas plantas. Essa atuação multifuncional torna os probióticos candidatos promissores para compor práticas de manejo mais sustentáveis.

Rafaela Vargas conta que o interesse em estudar os probióticos surgiu a partir de sua aplicação consolidada na saúde animal. “Se funcionam tão bem no equilíbrio da microbiota intestinal dos frangos, por que não poderiam ajudar a equilibrar a microbiota do solo?”, questiona.

Resultados em números e aplicações práticas

Durante os testes, os pesquisadores avaliaram indicadores clássicos de desenvolvimento das plantas, como altura da parte aérea, peso da biomassa fresca e seca e o estado das raízes. Nos grupos que receberam os probióticos, esses parâmetros se mostraram consistentemente superiores.

Segundo os cientistas, os microrganismos se mostraram ativos no solo, com efeitos visíveis no vigor das plantas. A aplicação via drench, por exemplo, favoreceu a absorção direta pelas raízes, o que pode ser vantajoso em cultivos comerciais.

Flavia Patrício, pesquisadora do Instituto Biológico de São Paulo, alerta, no entanto, que ainda são necessários testes para confirmar o desempenho dos probióticos em outras culturas.

Os pesquisadores também destacam que fatores como condições do solo, interação com outros microrganismos e momento da aplicação podem influenciar a eficácia dos probióticos. Ajustes nas formulações ou a combinação com outros microrganismos podem ser estratégias para melhorar seu desempenho. Esses aspectos estão sendo estudados pela empresa produtora dos probióticos em conjunto com uma empresa do ramo agrícola

Imagem acima: aplicação via substrato

Caminhos para uma agricultura mais sustentável

O uso de probióticos se insere em um contexto mais amplo de transição para sistemas agrícolas menos dependentes de insumos químicos, como fertilizantes e defensivos sintéticos. “A ideia é integrar esses bioinsumos a um pacote tecnológico mais sustentável, que fortaleça o solo e torne a lavoura mais resiliente”, defende Bettiol.

Pesquisadores já estudam ajustes nas formulações dos produtos ou combinações com outros microrganismos para ampliar a eficácia dos tratamentos. O objetivo é entender melhor as condições ideais de aplicação e como esses produtos interagem com os solos e plantas em diferentes regiões do País.

Oportunidade para o Brasil

O Brasil, por sua posição de destaque na produção de alimentos e pelas condições tropicais que favorecem o uso de microrganismos, tem grande potencial para liderar o desenvolvimento e aplicação de tecnologias baseadas em bioinsumos.

A tendência é que o uso de probióticos e outros produtos biológicos cresça, impulsionado pela busca por soluções mais sustentáveis e pela crescente demanda dos consumidores por alimentos mais saudáveis e com menor impacto ambiental.

“Temos a chance de aproveitar produtos que já existem, com segurança comprovada, e adaptá-los à nossa realidade agrícola. Isso pode reduzir o tempo e o custo de adoção dessas tecnologias”, conclui Bettiol.

Um mercado em crescimento

A demanda por bioinsumos no País vem aumentando nos últimos anos. A necessidade de alternativas ao uso intensivo de fertilizantes importados, somada à preocupação ambiental e à busca por sistemas produtivos mais equilibrados, tem impulsionado pesquisas e investimentos na área.

O uso de microrganismos benéficos, como os testados no estudo, representa uma frente promissora dentro dessa tendência. Além de estimular o crescimento das plantas, eles podem contribuir para o controle biológico de pragas e doenças, melhorar a saúde do solo e até aumentar a eficiência do uso de nutrientes.

 

A produção de alface no Brasil

O Brasil é um dos maiores produtores de hortaliças da América Latina, e a alface está entre as mais cultivadas. A produção anual ultrapassa 1,5 milhão de toneladas, concentrada principalmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, que reúnem condições climáticas favoráveis, boa infraestrutura e estão próximos dos grandes centros consumidores.

O brasileiro consome, em média, entre 5 e 7 quilos de alface por ano — um volume considerado baixo em relação a outros países. As principais variedades são a alface Crespa, a Lisa, a Americana e a Roxa, esta última ganhando espaço pelo apelo nutricional e estético.

Fatores como clima, transporte e sazonalidade impactam o preço da hortaliça. Em épocas de chuva intensa, por exemplo, a oferta diminui e os preços podem dobrar. Apesar de ser voltada principalmente ao mercado interno, a produção de alface começa a experimentar crescimento na agricultura hidropônica e orgânica, puxada por consumidores que buscam alimentos mais saudáveis. O setor também é importante gerador de empregos, especialmente entre pequenos e médios produtores.

 

 

Fonte: Norte Agropecuário