Um dos cartões-postais do Lajeado, o Morro do Segredo é a principal fonte de matéria-prima para o trabalho de moradores da região
– Foto: Fernando Alves/Governo do Tocantins
Mais do que paisagens exuberantes, a rica biodiversidade do Cerrado tocantinense revela-se como uma verdadeira fonte de oportunidades. O bioma não apenas encanta pela diversidade de sua flora e fauna, mas também desempenha um papel fundamental para o sustento de famílias e o desenvolvimento de comunidades, especialmente aquelas que residem no interior e no entorno de Unidades de Conservação, a exemplo da Área de Proteção Ambiental Serra do Lajeado (APSL), que é gerida pelo Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins).
Responsável pela execução da política ambiental do Tocantins, o Governo do Tocantins, por meio do Naturatins, busca incentivar os trabalhos dessas comunidades com vistas a equilibrar a preservação e a conservação dos recursos naturais com o desenvolvimento socioeconômico da região. Na APA Serra do Lajeado, onde famílias encontram nas riquezas do Cerrado, não apenas um meio de sobrevivência, mas também uma fonte de valorização cultural, nascem histórias inspiradoras. Uma delas é a trajetória de dona Maria Isete Ramos, há 18 anos moradora da cidade de Lajeado.
Em 2022, dona Maria ficou desempregada por causa da pandemia da covid-19 e enfrentou incertezas sobre como sustentar a família. Foi, então, que ela decidiu usar seus conhecimentos de culinária e artesanato para produzir licores de frutas nativas do Cerrado, como caju, cagaita, mangaba, tamarindo e jenipapo.
“Eu busquei na terra, na flora, no Cerrado da APA Serra do Lajeado, frutas naturais que pudessem me dar uma condição e uma qualidade de vida. Foi quando eu comecei a trabalhar com licores, dando início à criação de um empreendimento, que envolveu um pequeno custo. Hoje, estou me tornando uma empreendedora do ramo dos sabores naturais do Cerrado”, conta dona Maria, que batizou o seu negócio de Segredo do Cerrado Artesanal, uma homenagem ao Morro do Segredo, um dos cartões-postais da cidade. “É de lá que vêm 80% da matéria-prima do meu trabalho”, acrescentou.
Além dos licores, a empreendedora também faz palmitos de banana, bambu, gueroba e também conserva de brócolis, que são iguarias típicas da região. Além disso, ela também adota práticas sustentáveis, aproveitando as garrafas que encontra no solo para reciclar e embalar seus produtos. “É um custo zero. E assim eu encontrei na natureza uma forma de ganhar dinheiro, colocar comida na minha mesa e viver bem”, destacou.
A resiliência e determinação das pessoas que vivem nessas comunidades são também evidenciadas na história de dona Rosineide Passos. Diante da sua instabilidade financeira, há cinco anos ela encontrou nos frutos do Cerrado uma maneira de enfrentar os desafios econômicos e buscar mais uma fonte de renda para sua família. “Em meio às dificuldades enfrentadas, tomei a decisão de aproveitar as safras do buriti, cajá e acerola, para extrair e comercializar as polpas”, revelou.
São histórias que não apenas refletem a resiliência individual, mas também destacam o papel de iniciativas como as desenvolvidas pelo Naturatins. São ações que contribuem para o florescimento de oportunidades e a preservação do Cerrado, aliando a harmonia entre as atividades humanas e a conservação dos recursos naturais, garantindo assim, a construção de um futuro sustentável para as próximas gerações.
Iniciativas
Para promover o desenvolvimento socioeconômico sustentável dessas comunidades, o Naturatins oferece apoio essencial por meio de ações que incluem orientações, assistência técnica, além de incentivos para o cultivo, a coleta e a comercialização dos produtos derivados dos recursos naturais do bioma Cerrado. Todo esse suporte, segundo o gerente de Unidades de Conservação do Tocantins, Rodrigo Sávio, são iniciativas que contribuem para a construção de um equilíbrio sustentável entre a conservação ambiental e o desenvolvimento socioeconômico das comunidades envolvidas. “É um apoio fundamental para o fortalecimento das comunidades, garantindo não apenas a preservação do meio ambiente, mas também a melhoria da qualidade de vida e o sustento das famílias locais”, ressaltou.
Satisfeita com os trabalhos desenvolvidos pelo órgão ambiental, dona Maria destaca a importância do trabalho incansável realizado pelo Naturatins para preservar o bioma Cerrado na região. “O Instituto se destaca por sua presença constante, evitando danos à natureza e promovendo a preservação das plantas, especialmente na prevenção de incêndios. Quando se fala dos frutos, essa equipe não mede esforços para ajudar, colher e levar até você. Durante a época dos pequis, os membros da equipe chegavam com sacos da fruta, oferecendo apoio para conservas. Isso é extremamente rico em consciência e amor, um aprendizado sobre o valor de ter uma reserva ambiental preservada, mantendo vivos nossos costumes e história para todas as gerações”, destacou ao concluir que sem essa preservação, as frutas típicas da região desapareceriam, afetando o sustento de quem depende da natureza.