Outro problema discutido durante o evento, que também vem se agravando não só na Amazônia, mas também em outras regiões do Brasil, é a questão da rastreabilidade. Países que pertencem a União Europeia, vem impondo restrições a carne vinda do Brasil, por não saber a sua origem e temerem que o produto, por exemplo, provenha de desmatamento,
Contudo, segundo Fernando Sampaio, diretor executivo da ABIEC, a exclusão desses produtores da cadeia não é a forma correta de se aplicar a sustentabilidade na pecuária.
“Nós precisamos ter a união de todos os elos da cadeia para que essa rastreabilidade possa chegar ao pequeno produtor. Não adianta exclui-lo, não é assim que se resolve o problema. O governo tem de estar em cima do pecuarista, pronto para fiscalizá-lo, aplicar as leis, mas também promover incentivo sustentável a ele, se não, não há rentabilidade. Desmatamento legal se trata com incentivo. Ilegal, com fiscalização. Assim que o Brasil mostrar controle sanitário e de origem, voltaremos a acessar mais mercados e poder exportar a carne para todo o mundo.”
Diante das dificuldades, a mais nova iniciativa do Fundo JBS pela Amazônia vai funcionar como fomentadora de negócios que serão parceiros do produtor local. A ideia é ter hubs de negócios deem suporte ao pequeno produtor na reforma de pastagem, no acesso a tecnologias para a melhoria de produtividade, por meio de técnicas agrossilvipastoris, suprindo o mercado com um animal de boa qualidade e de baixo carbono.
“Entendemos que a pecuária de alta produtividade e de baixo carbono é aliada do pequeno produtor e pode ser realizada por eles, desde que haja um apoio consistente na superação das principais barreiras nesse processo. Consideradas as transformações nas demandas de mercado, se nada for feito, eles podem ser pressionados para as margens do setor formal, agravando ainda mais sua vulnerabilidade socioeconômica”, defende a diretora-executiva do Fundo JBS pela Amazônia.
O primeiro modelo do programa JUNTOS, que entrará em vigor imediatamente, vai atrair pequenos produtores da região amazônica interessados em fazer parte de um sistema de recria de gado com alta rentabilidade.
A parceria será feita a partir do hub acelerador coordenado pelo Instituto Rio Capim Agrossilvipastoril, que ficará encarregado da cria intensificada do gado, que abarca até o sétimo ou nono mês de vida do animal, e cederá os bezerros rastreados individualmente e com emissão de GTA aos pequenos produtores interessados em fazer a recria.
Quando o animal completa um ano, o pequeno produtor recebe o retorno financeiro baseado no ganho de peso conseguido no período. Na fase seguinte, o lote é encaminhado para fazendas de engorda ou finalizados em confinamentos.
Adicionalmente, o hub de negócios intermediará ainda o acesso do pequeno produtor ao sistema de crédito público do Pronaf – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, para reforma de áreas de pasto degradadas ou realização de projetos sustentáveis na propriedade, por exemplo. Em paralelo o Instituto Rio Capim testará um projeto de carbono com o potencial de oferecer menos de 10% da receita do negócio gerado ao pequeno produtor, como renda de crédito de carbono.
“Trata-se de um sistema escalável de integração pecuária, replicável com condições de mercado. Esse projeto, é uma das formas que faz voltar a atenção para o campo. Tivemos muitos jovens saindo da zona rural justamente por não ser uma atividade rentável”, diz Valmir Ortega, CEO do Instituto Rio Capim Agrossilvipastoril.
Voltando aos objetivos do projeto, Andrea Azevedo cita os benefícios não só para o pecuarista mas também para o meio ambiente.
“A estrutura concilia a recuperação da pastagem degradada com a pecuária de qualidade e maior produtividade, endereçando todas os desafios da atividade. Feito isso, os resultados financeiros a médio e longo prazo para o produtor são expressivos, dentro de um sistema de parceira que reposiciona o pequeno produtor na cadeia para uma pecuária mais eficiente no uso da terra”, explica a diretora do Fundo JBS pela Amazônia.
O segundo modelo do programa JUNTOS: Pessoas + Florestas + Pecuária será operado em parceria com a fundação Solidaridad, que atua com o Fundo JBS pela Amazônia desde 2021 na assistência de 1.500 agricultores familiares na região da Transamazônica.
O hub de negócios, nesse caso, vai auxiliar na Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), no pacote tecnológico reprodutivo, na compra de insumos, mas também intermediará a implementação de rastreabilidade e a comercialização. Se o pequeno produtor quiser, pode alongar o processo da cria para a recria.
“A parceria com a Solidariedad foi muito boa. Aumentou a renda da minha propriedade, com um volume maior de gado e usando menos terra. Tudo foi uma questão de assistência técnica, incentivo e implantação de tecnologia. Meu filho, que estava na cidade, até voltou para o campo depois de ver como a propriedade melhorou,” contou o produtor familiar Ananias que foi ao evento à convite da JBS para trazer o seu case aos presentes.
Em todos os formatos, a JBS oferecerá suas estruturas para o atendimento ao pequeno produtor. O projeto terá conexão com os Escritórios Verdes mantidos pela Companhia, que dão assessoria técnica gratuita a quem precisa de regularização ambiental. Também haverá acesso ao programa Fazenda Nota 10, iniciativa da Friboi que visa o aprimoramento da gestão das propriedades.
“Os escritórios verdes já regularizaram mais de 7.000 propriedades, é um número muito relevante e que estamos trabalhando para aumentar ainda mais. Sã através deles que podemos regularizar a atuação dos produtores e os reinserir na cadeia. Sem isso, o produtor fica excluído. Ele precisa ter apoio, assistência para trazer regularidade a sua produção, pois quanto mais regularidade tivermos, melhor”, destacou Liège Correia, diretora de sustentabilidade da JBS.
Metas e planos financeiros
De início, o Fundo JBS vai destinar R$ 10 milhões ao programa JUNTOS: Pessoas + Florestas + Pecuária, com a estimativa de investir até R$ 100 milhões nos próximos dez anos, alavancando mais de R$ 900 milhões entre recursos de Pronaf, comerciais e doações, com diversos tipos de instrumentos financeiros, como fundos de aval e fundos blended finance, por exemplo, que possam ajudar a aumentar a escala nessa fase inicial do projeto.
O Governo do Estado do Pará será um dos parceiros na análise de demandas geradas pelo programa.
“Vamos apoiar com um sistema mais rápido de aprovação dos CARs (Cadastro Ambiental Rural) e com o Programa por Serviços Ambientais (PSA) para recuperação de passivos nas pequenas propriedades, além de financiar os primeiros produtores do piloto através do Banpará.”, afirma Raul Protázio, subsecretário da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará.
Protázio ainda afirmou que “apenas através da união de todos os atores presentes na cadeia do agro, é que o produtor consegue prosperar. Todos os atores, seja o estado, as empresas privadas, entregam um valor diferente que, unidas, conseguem extrair o máximo potencial. Se não há união, não há transformação completa”.
O programa planeja atender mais de 3500 famílias nos principais Estados da Amazônia Legal, começando pelo Pará, com uma área monitorada de mais de 350 mil hectares, com mais de 50 mil hectares de pastagens recuperadas, através do apoio a pequenos produtores na gestão de bovinos de corte e manejo do solo.
A expectativa é que, no médio e no longo prazo, os dois modelos propostos pelo JUNTOS do Fundo JBS pela Amazônia virem BAU (Business As Usual), tornando-se independentes e autossustentáveis.
Sobre o Fundo JBS pela Amazônia
O Fundo JBS pela Amazônia é uma organização sem fins lucrativos criada em 2020 para recuperar áreas degradadas e apoiar modelos inclusivos e rentáveis que gerem valor para a floresta em pé. Para alcançar esses resultados, o Fundo trabalha dentro de três grandes eixos de atuação: Cadeias Produtivas em Áreas Abertas, Bioeconomia e Ciência e Tecnologia.
Juntos eles alavancam e potencializam a produtividade em áreas degradadas e fortalecem o ecossistema de negócios gerados em torno da floresta em pé. O eixo Ciência e Tecnologia é transversal, e apoia soluções disruptivas e estruturantes capazes de agregar valor aos produtos das florestas e desenvolver conectividade, mobilidade e energia renováveis.
Fonte: Canal Rural
Imagem: Envato