Entrevista: Desafios e perspectivas do Agro na gestão Pública

A região do Bico do Papagaio deve ao setor rural uma parcela substancial de sua economia, sendo um exemplo da importância que a agropecuária possui hoje no Brasil – atualmente um dos maiores exportadores de insumos do mundo.

Em termos de inovação e capacitação profissional, o Bico do Papagaio também tem grande potencial. São várias instituições públicas e privadas que possuem formações na área. Para destacar apenas algumas podemos citar o Instituto Federal de Araguatins (IFTO – Araguatins), a Faculdade do Bico do Papagaio (FABIC), em Augustinópolis, e a Escola Família Agrícola, em Esperantina, que ofertam cursos técnicos e superiores.

Em oposição a esse cenário promissor, os gestores públicos dos municípios da região poucas vezes escalam profissionais para os cargos de chefia nas pastas que lidam com o Agro. O jovem de 23 anos, José Felipe Tavares de Almeida, é um desses exemplos raros. Nós do Bico Rural conversamos com atual secretário de Agricultura do município de Buriti sobre os desafios e perspectivas do setor rural na nossa região.

 

Para começar, a gente quer saber um pouco sobre a sua trajetória acadêmica e profissional. 

Eu sou Técnico em Agronegócio formado pelo Senar- Polo Araguatins e também sou Engenheiro Agrônomo formado pelo IFTO – Campus Araguatins , formado em dezembro de 2019.

Após a conclusão do curso, trabalhei em Buriti prestando consultorias e atuei também em uma fazenda em Buriti. Na faculdade, eu fui bolsista de projetos de extensão voltados para o ensino de agroecologia e implantação de horta em escolas públicas e em um projeto de pesquisa sobre o desenvolvimento de mudas de cacau. Também fui colaborador de projetos de pesquisas cientificas como Sistemas agroflorestais e incremento de adubo verde em solo, projeto com experimentação de pitaia, projetos voltados para adubação verde em propriedades rurais e projeto com adubação de açaí. Além disso, fiz estágio na área de irrigação e recursos hídricos na Embrapa Cerrados em Brasília.

 

Qual sua perspectiva para a realização dessa função?

 Sabemos que não é simples trabalhar com a agricultores, mas espero através desse cargo adquirir mais experiência, mais conhecimento e principalmente, ajudar a minha cidade.  Tenho consciência de que através do desenvolvimento da agricultura, iremos ter matéria-prima para a abertura de agroindústrias na cidade e que através dessas, teremos vagas de trabalho e geração de renda para as famílias. Dessa forma, os jovens que estão se formando terão trabalho e não precisarão sair da cidade para buscar emprego em outras regiões.

“Outro desafio é convencer a comunidade política de que os jovens e profissionais das ciências agrárias estão aptos a exercer esses cargos de tamanha responsabilidade.”

O que acha do desafio de ter assumido uma secretaria de agricultura? Na sua opinião qual o principal desafio?

 É um tremendo desafio, vejo que não é muito comum pessoas tão jovens e que não fazem parte de nenhum grupo político da cidade assumindo esses cargos de confiança e de grande responsabilidade. Fiquei feliz e também surpreso por ter sido chamado a ocupar essa vaga.  Trabalhar junto aos agricultores e pecuaristas da cidade, é uma oportunidade única que tenho para contribuir com uma mudança na realidade dessas pessoas. Irei fazer o possível para desenvolver o agronegócio na região, incentivar a produção, a utilizar técnicas de manejo adequada, preservando o meio ambiente e fazendo uma agricultura sustentável.

O principal desafio desse cargo é conseguir colocar em prática todos os projetos que queremos desenvolver, pois, infelizmente, peguei uma secretaria que não estava muito bem: defasada e sem projetos. Outro desafio é convencer a comunidade política de que os jovens e profissionais das ciências agrárias estão aptos a exercer esses cargos de tamanha responsabilidade. 

Quais as principais ações que precisam ser desenvolvidas no setor agro em seu município? 

Queremos incentivar nossos produtores a produzir e também a comercializar o produto no município para que movimente a economia local. Dessa forma, a princípio estamos querendo desenvolver a feira da economia solidária, queremos implantar uma horta comunitária e consertar as estradas vicinais para o acesso as comunidades rurais da cidade. Iremos também desenvolver projetos para implantação de culturas de acordo com a aptidão da região produtora, levar técnicas de produção para a pecuária leiteira e fazer cursos de capacitação para diversos produtores do município. Já estamos em busca de parceiros públicos e privados para o apoio no desenvolvimento dessas ações e de alguns programas que iremos desenvolver na área de piscicultura, agricultura, pecuária, agroecologia e horticultura.

“Da comunidade, espero paciência para organizarmos a secretaria de agricultura, porque não temos como trabalhar com a casa bagunçada.”

 

O que você espera da Prefeitura e da comunidade para o bom andamento dessa atribuição?

Espero da Prefeitura, e também do Estado, o apoio necessário para desenvolver os projetos para os produtores rurais, pois a agricultura e pecuária é o principal eixo econômico que movimenta nossa economia. Da comunidade, espero paciência para organizarmos a secretaria de agricultura, porque não temos como trabalhar com a casa bagunçada. Temos a total noção da importância da agricultura no município e iremos trabalhar arduamente para o desenvolvimento desta. Também espero cooperação, pois não trabalhamos sozinhos e a comunidade será nossa parceira nessa jornada.