Nas mãos das artesãs que tecem diariamente o capim dourado e a palha do buriti, nasce o artesanato e as biojoias que atravessaram fronteiras
– Foto: Tharson Lopes/Governo do Tocantins
Considerado um hotspot ecossistêmico, pela biodiversidade extremamente rica e, ao mesmo tempo, ameaçada de extinção, o Cerrado ocupa 91% do território tocantinense (os outros 9% são compostos pelo bioma Amazônia). O Dia do Cerrado é celebrado nesta segunda-feira, 11, bioma que abriga diversas comunidades extrativistas que fazem o uso sustentável da rica biodiversidade disponível, capim dourado, buriti, pequi e tantos outros produtos retirados da natureza e transformados em renda para as comunidades tradicionais e agricultores familiares. O fortalecimento dessas cadeias produtivas é um dos objetivos do Programa Jurisdicional de REDD+ do Tocantins, por meio dos eixos da Estratégia Tocantins Competitivo e Sustentável, do Governo do Tocantins.
Na comunidade quilombola Mumbuca, situada na região do Jalapão, em Mateiros, há cerca de 300 km da Capital, o capim dourado, conhecido como o ouro do Tocantins, é um bom exemplo de como aproveitar esta riqueza oferecida pelo Cerrado de forma sustentável. Nas mãos das artesãs que tecem diariamente o capim e a palha do buriti, nasce o artesanato e as biojoias que atravessam fronteiras e ganham o mercado internacional.
Segundo a presidente da Associação de Artesãos e Extrativistas do Povoado do Mumbuca, Railane Ribeiro da Silva, cerca de 100 famílias residem na comunidade e mais de 90% delas vivem da venda do capim dourado, um exemplo de como o uso sustentável deste recurso pode se tornar umas das formas possíveis de integrar a conservação do bioma com a geração de renda para comunidades. Segundo Railane, na alta temporada a comunidade chega a comercializar 5 mil peças por mês.
“O capim dourado é muito importante porque além de trazer a renda para os que não tem emprego, ele garante o pão na nossa mesa, a nossa roupa para vestir amanhã e, também, para nos deixar visíveis para o mundo, já que esta história faz com que as pessoas nos valorizem ainda mais. O capim dourado é o nosso tesouro ”, declara.
Além do capim dourado, a lista dos produtos da sociobiodiversidade do Cerrado é imensa e inclui, entre outros produtos, doces, polpas, farinhas, óleos, essências e sabonetes de frutos como pequi, buriti e murici, plantas nativas que podem trazer não só alimentos, como matéria-prima para a produção de diversos medicamentos, cosméticos e peças de artesanato com valor econômico.
Segundo o secretário do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Tocantins, Marcello Lelis, promover um desenvolvimento sustentável a partir do fortalecimento das cadeias produtivas sustentáveis é um dos eixos econômicos previstos na Estratégia Tocantins Competitivo e Sustentável, uma estratégia de baixas emissões a ser desenvolvida com os recursos oriundos das vendas de créditos de carbono provenientes do acordo técnico e comercial assinado com a Mercuria Energy Trading S/A. “Para atendimento das salvaguardas estão previstos investimentos nos arranjos produtivos locais com base nos produtos da sociobiodiversidade e este é um processo muito importante que queremos construir junto aos agricultores familiares, povos indígenas e comunidades tradicionais, ouvindo deles quais são as prioridades para desenvolver ainda mais as cadeias, promovendo a conservação, o uso sustentável da biodiversidade, e proporcionando a melhoria da qualidade de vida destas famílias”, ressalta.
A proposta desenhada dentro da estratégia prevê ainda o estabelecimento de novos arranjos produtivos locais com base nos produtos da sociobiodiversidade de valor agregado, respeitando os saberes tradicionais. A superintende de Gestão de Políticas Públicas Ambientais da Semarh, Marli Santos, explica que o Cerrado oferece diversos serviços ecossistêmicos aos seres humanos, como polinização de plantas, produção de fibras e madeiras, fornecimento de água e os produtos da biodiversidade de extrema importância econômica e social, principalmente para os agricultores e comunidade tradicionais que residem no bioma. “O Tocantins está na Savana mais biodiversa do mundo, um hotspot que fornece os serviços ambientais de clima, de biodiversidade, de polinização, produção de alimentos, de produção de medicamentos, e outros. Tudo isso faz com que o Cerrado tenha esta força. E essa riqueza toda que o Cerrado nos oferece com esses serviços ambientais exige no mínimo que nós tocantinense tenhamos a obrigação de protegê-lo da melhor forma possível”, afirma.
A superintendente reitera ainda que a estratégia de sustentabilidade pactuada pelo Estado do Tocantins para os próximos 20 anos prevê além do fortalecimento e da estruturação das cadeias produtivas, a promoção do protagonismo das comunidades tradicionais, da economia criativa e do estímulo à adoção de práticas para preservação da beleza cênica local. “Queremos que o Tocantins seja referência na região Norte do Brasil, em produção sustentável de alimentos e produtos da sociobiodiversidade e no manejo de suas riquezas naturais. Os recursos gerados com a venda dos créditos de carbono serão fundamentais para fazermos estes investimentos a partir de um processo de escuta com as comunidades que iremos iniciar com a realização de oficinas preparatórias”, completa Marli Santos.