Agronegócio do Sul critica mudanças no calendário do plantio da soja

Plantio de soja no sul. Foto: Jaelson Lucas/Arquivo AEN

 

Após diversos pedidos e negociações com o governo federal, os estados do Sul obtiveram a alteração no calendário do plantio da soja para a safra 2023/24. No entanto, as mudanças anunciadas pelo governo não atenderam totalmente às demandas solicitadas, afirmam representantes do agronegócio da região.

 

Nesta sexta-feira (15/9), foi publicada a Portaria nº 886, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), com a alteração nas janelas de semeadura da soja para a safra 2023/2024 nos Estados da Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul, Rondônia e Santa Catarina. A medida atende a uma promessa do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que havia garantido que os calendários seriam conforme as particularidades de cada estado.

 

A versão anterior, publicada em julho, previa períodos mais curtos que os da safra anterior, com apenas 100 dias para o plantio dentro do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC). No entanto, a medida recebeu críticas de estados produtores, especialmente na região Sul.

 

Um parecer técnico encaminhado pelos três Estados do Sul ao Ministério da Agricultura afirmava que a decisão era “arriscada” diante das variações climáticas e de condições de solo para o plantio. O documento diz que a extensão da janela é necessária e viável do ponto de vista fitossanitário.

 

Por exemplo, no ciclo 2022/23, a janela de plantio no Rio Grande do Sul ocorreu entre 15 de outubro e 28 de fevereiro, totalizando 140 dias. Segundo entidades agrícolas gaúchas, como o Estado vem enfrentando sucessivas estiagens no verão, foi o calendário mais extenso que permitiu ao produtor fazer o cultivo de soja nas últimas safras.

 

Outro argumento da região Sul é que a janela mais curta impede ou limita o cultivo de outras culturas antes da soja, o que pode gerar forte impacto econômico, sobretudo a pequenos produtores de milho em grãos, milho silagem (usado para alimentação de vacas leiteiras), feijão, tabaco, trigo e cevada.

 

A Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), havia pedido a volta dos 140 dias para a semeadura da soja, período que a entidade considera ideal. Agora, o estado terá duas regiões com 120 dias e uma com 100 dias.

 

“Infelizmente, não fomos atendidos. Ao invés de restabelecer os 140 dias, o Mapa optou por regionalizar, sendo que um grupo de municípios segue com 100 dias, prejudicando milhares de produtores rurais do Paraná”, destaca Ágide Meneguette, presidente do Sistema Faep/Senar-PR.

 

Segundo o dirigente, a mudança drástica no calendário faltando pouco tempo para o início do plantio causa severos problemas, pois os produtores já se planejaram de outra forma. “A Faep continua monitorando a situação e insistindo para que os 140 dias voltem na safra 2024/25”, afirma.

 

Em Santa Catarina, o calendário de plantio na safra passada tinha 143 dias, terminando em 21 de fevereiro. “Somos um estado de pequenos produtores rurais. Esse período mais longo permitia que os agricultores pudessem tirar o máximo proveito de suas terras, cultivando, na mesma área, outra culturas, como milho e feijão, em rotação com a soja”, afirma Enori Barbieri, vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc).

 

Para o dirigente, a mudança para 100 dias no estado foi uma “arbitrariedade” do governo federal. “Temos áreas de plantio a 200 metros acima do nível do mar e outras a 1 mil. Não tem como seguir o mesmo calendário”, diz.

 

Barbieri acreditava que o Ministério da Agricultura iria atender a demanda por um prazo maior. No entanto, na sexta-feira, foi anunciado que Santa Catarina teria três regiões com 120 dias de plantio e outra com 100 dias. “Tudo o que falamos com o ministro foi ignorado”, lamenta. Segundo Barbieri, os produtores de Santa Catarina deverão ignorar as recomendações do ministério neste ano.

 

“Muita gente vai desrespeitar esse calendário para seguir plantando no prazo que estão acostumados. Ou fazem isso ou vão ter que escolher entre uma cultura ou outra nas suas áreas de terras, sofrendo perdas econômicas”, afirmou.

 

Gaúchos gostaram

 

Já para o Rio Grande do Sul, que terá três regiões, com 99, 109 e 119 dias, as mudanças foram satisfatórias. “Isso atendeu nossas demandas e necessidades”, afirma o vice-presidente da Federação da Agricultura do RS (Farsul), Elmar Konrad. Segundo o dirigente, o período determinado anteriormente pelo Ministério da Agricultura era insuficiente para o plantio e, se mantido, traria prejuízos enormes para o produtor gaúcho.

 

Com o calendário regionalizado, a maior parte da área produtora gaúcha de soja seguirá o plantio até 28 de janeiro, ou seja, um período de 120 dias. “Dessa forma não haverá conflito com o plantio de milho, que acontece antes da soja no RS, e não causa risco sanitário”, comenta Konrad.

 

Como ficou o calendário da soja

 

Segundo o ministério, a mudança nos calendários ocorreu em função de características geoclimáticas e arranjos produtivos em algumas regiões específicas, principalmente para os casos em que a soja é cultivada como segunda safra (após as culturas do milho, feijão, entre outras). Desta forma, ao invés de um período único para cada Unidade Federativa, foram estabelecidos calendários diferenciados para regiões diferentes no âmbito de cada um destes Estados.

 

Paraná: com o novo calendário, o plantio no Paraná ficou dividido em três regiões. A primeira vai de 20 de setembro a 18 de janeiro de 2024 (120 dias); a segunda, de 11 de setembro a 20 de dezembro de 2023 (100 dias); e a terceira, de 17 de setembro a 15 de janeiro de 2024 (120 dias).

Rio Grande do Sul: também são três regiões: a primeira de 1º de outubro a 18 de janeiro de 2024 (109 dias); a segunda, de 1º de outubro a 28 de janeiro de 2024 (119 dias); e a terceira, de 1º de outubro a 08 de janeiro de 2024 (99 dias).

 

Santa Catarina: foi dividido em quatro regiões. A primeira vai de 13 de outubro a 10 de fevereiro de 2024 (120 dias); a segunda e a terceira vão de 02 de outubro a 30 de janeiro de 2024 (120 dias); e a quarta, de 02 de outubro a 10 de janeiro de 2024 (100 dias).

 

Bahia: o novo período vai de 1º de outubro a 31 de dezembro de 2023. Neste caso, o calendário foi reduzido de 100 para 92 dias em atendimento à solicitação do Órgão Estadual de Defesa Sanitária Vegetal.

 

Rondônia: também foi atendida a solicitação do Órgão Estadual de Defesa Sanitária Vegetal no sentido de estabelecer um período único de 100 dias para o estado como um todo, ao invés de períodos diferenciados para duas diferentes regiões como estabelecido anteriormente. O novo período vai de 11 de setembro a 20 de dezembro de 2023.

 

Vazio sanitário

 

O calendário de semeadura é adotado como medida fitossanitária complementar ao período de vazio sanitário, com objetivo de reduzir ao máximo possível o inóculo da ferrugem asiática da soja. A medida implementada no Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja (PNCFS) visa à racionalização do número de aplicações de fungicidas e a redução dos riscos de desenvolvimento de resistência do fungo Phakopsora pachyrhizi (que causa a Ferrugem Asiática) às moléculas químicas utilizadas no seu controle.

 

A Ferrugem Asiática é considerada uma das doenças mais severas que incidem na cultura da soja, podendo ocorrer em qualquer estádio fenológico. Nas diversas regiões geográficas onde a praga foi relatada em níveis epidêmicos, os danos variam de 10% a 90% da produção.

 

Em Mato Grosso, principal produtor de soja do Brasil, o vazio sanitário terminou na sexta-feira (15/9) e o plantio da oleaginosa pode ser iniciado a partir deste sábado (16/9). A janela de semeadura no Estado vai até 24 de dezembro.

 

No entanto, um grupo de 48 produtores de algodão de Mato Grosso já havia recebido autorização do Ministério da Agricultura para antecipar o plantio de soja antes do fim do vazio sanitário. Com uma colheita prematura, o grupo poderá iniciar mais cedo o plantio de algodão nas mesmas áreas.

Fonte: Tocantins Rural