Pesquisa realizada em solos do Distrito Federal e de Goiás revela que o Cerrado abriga 20 potenciais novas espécies e um novo gênero de enquitreídeos (Oligochaeta, Annelida), também conhecidos como microminhocas, organismos que ocorrem em quase todos os solos do mundo. A publicação dessas espécies e gênero ainda depende de confirmações de algumas dessas características e análises mais detalhadas.
Os exemplares foram coletados em solo de vegetação natural e em áreas agrícolas e pertencem a seis gêneros diferentes. Este é o primeiro levantamento quantitativo e qualitativo da população de enquitreídeos no Cerrado realizado com metodologia padronizada e recebeu apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF).
A pesquisadora da Embrapa Cerrados (DF) Cintia Niva, coordenadora do estudo, diz que os resultados são surpreendentes: “A ideia geral era que havia poucas microminhocas no Cerrado devido ao prolongado período de seca, já que esses invertebrados precisam de solos úmidos para sobreviver. No entanto, os dados obtidos mostram que temos aqui uma população tão abundante e rica quanto à da Mata Atlântica e à da Amazônia, e composta por várias espécies possivelmente endêmicas, ou seja, restritas ao Cerrado”.
A importância do estudo das microminhocas está relacionada às funções que elas desempenham no ecossistema, uma vez que contribuem para a decomposição de matéria orgânica, ciclagem de nutrientes, formação do solo e cadeia alimentar. Apenas 62 espécies terrestres ou semiaquáticas são conhecidas até hoje na América Latina (dessas, 47 existem no Brasil), e 710 válidas em todo o mundo. A pesquisadora conta que há uma hipótese que considera a América do Sul como o centro de origem das microminhocas, o que eleva a expectativa de uma alta diversidade no continente à medida que mais áreas são estudadas.
Os dados servirão de base para o uso desse grupo de organismos como indicadores da conservação da diversidade e da qualidade do solo como habitat no Cerrado em diferentes sistemas de produção. “Ainda existe uma carência de métricas que possam auxiliar no diagnóstico de qualidade do solo, especialmente com base na biodiversidade. Por isso, os trabalhos com bioindicadores são importantes para estimar a sustentabilidade dos ambientes”, explica Niva.
(Com informações Embrapa)